Não sei o que
faz um pai, vivendo às margens do grande rio, a todo instante pronto para sua travessia,
pedir a seu filho ainda criança, que se insurja contra um império mais forte e
poderoso. Por ter vivido a maior parte de sua vida no lodo da violência, conhecendo
as mazelas das batalhas, deveria lhe restar um pouco de bom senso para não deixar
como herança essa carga ignóbil a quem mais devia prezar.
Não era o que
pensava o cartaginês Amílcar Barca, pai de Aníbal. Eu diria a meu herdeiro que
achasse uma boa moça, fugisse das confusões, criasse uma bonita prole e fosse viver
feliz.
É intrigante a
morte coletiva de golfinhos que se lançam à praia e sucumbem na areia. O mesmo
fenômeno ocorre periodicamente com certos tipos de roedores que atravessam
milhares de quilômetros para por fim a própria existência, jogando-se no mar.
Eventualmente surge um salvador da pátria, que encontra no sacrifício de todo
grupo de prosélitos, a melhor saída para as agruras da vida, o que é um
tremendo contrassenso. Mas a história está cheia deles.
Meu pai contava
que de certa feita, na Pérsia moderna, um observante buscou orientação com seu
Aiatolah:
- mestre, dançar
é permitido?
- Nem pensar,
aqueles movimentos libidinosos do corpo, seus rostos colados mirando o
infinito, os olhares suados e quem sabe até sussurros... uma clara manifestação
do demônio.
- e transar de
quatro?
- pode
- ponta cabeça,
de trás e de lado?
- pode, pode,
pode
- na cozinha, na
escada e na mesa?
- pode, pode,
pode
- assim e assado
- pode
- e de pé?
- NÃO ! Pode parecer que está dançando.
E nem adianta
argumentar. É dogmático. Aqueles que estão absolutamente certos da verdade
estão em verdade com suas mentes fechadas para uma possível verdadeira verdade.
Pode parecer loucura, mas é a mais pura verdade. Ih!
A guerra leva o
homem a um estágio anterior de sua evolução. O exercício contínuo da barbárie
desperta a besta que vive domada e adormecida em cada um de nós.
Sem mencionar o
estrago que provocou em dezenas de milhares de constelações familiares romanas,
o cerco imposto a Roma por Aníbal custou a seus homens algumas temporadas na
lama longe de suas mulheres. Quando me atraso no trabalho já corro quase insano
para os braços de minha amada, o que dirá de alguns invernos.
Nas últimas 72 horas cerca de 160 bombas foram lançadas de Gaza no território israelense por grupos independentes que não tem apoio de sua liderança, hoje fragmentada. Bibi foi aos States pedir que Obama baixe um porrete mais ou menos preventivo no Irã, que dá suporte e vida ao Hamas. O americano quer que os israelenses façam esse trabalho sujo, mas precisa estar certo de que não haverá falhas. Justo na antiga Pérsia, que sob a égide do grande aquemenida Dario, livrou os judeus das mãos de Nabucodonossor, responsável pela primeira destruição do Grande Templo e em seguida a escravidão do povo de Israel.
Se não pararem os
Irãs agora, a linha de frente da guerra é a que menos sofrerá. As bombas cairão
no centro das grandes cidades penalizando civis. Por enquanto morrem
misteriosamente cientistas, os fundos necessários para alimentar o povo estão
enriquecendo urânio, a verba de educação aquece o forno de Lúcifer, infindáveis
reuniões são agendadas na ânsia de encontrar o mais eficiente método de
anulação de diversos povos e tudo em nome da modernidade e da paz entre os
homens de boa vontade.
Por aqui bolsas
de estudo são oferecidas a filhos de milionários, o exemplo que vem das casas
da lei são os mais nefastos, a choldra padece e seus lideres enriquecem, o sexo
dos anjos, ainda não definido, ocupa as primeiras páginas dos jornais, programas
como o bolsa família são um tiro no pé, a violência nas ruas aponta para as
lacunas das UPPs, Ricardo Teixeira, vulgo “o pulha” posa de herói, mas pelo
menos o país tem verão, futebol e carnaval!
Há pouco tempo
uma peça publicitária advertia que se fizéssemos do carro uma arma, acabaríamos
nós mesmos vitimas desse mal. Estamos sendo punidos por não usar com sabedoria
a democracia e a liberdade.
O homem continua
lançando-se às praias e ao mar como certos golfinhos e roedores, a fazer
promessas suicidas em defesa de sua honra, usar a brutalidade como meio de se
chegar à paz, a enxergar um horizonte pontual e esquecer que faz parte de um
universo.
Tudo é
permitido, mas um comentário nem tão diplomático nem pensar, é mexer com nossos
brios, tocar na ferida, um chamamento à guerra, mesmo porque se nada fizermos corremos
o risco de parecer que estamos dançando.
Sei lá, coisa do
demônio!
Muito bom Arnaldo, acho que voce devia ficar no lugar do Jabour.
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Excelente texto, parabens!,,m
Bjs
Claudia